Shirley Emerick e Bruna Sandrini
Na Agrovila Pinhão Manso em Camaçari (Bahia), o primeiro domingo do mês é dedicado à Feira Agroecológica. Lá, as mulheres da comunidade expõem frutas, verduras e legumes produzidos em suas propriedades. Elas preparam também quitutes de farinha de aipim e exploram o sabor exótico do dendê em comidas típicas, enquanto rodas de conversa envolvem os visitantes. Esse é um dos muitos eventos que escoam a produção e movimentam a economia para esse grupo de baianas. Lá, você encontrará a chef e empresária Solange Borges, que busca impulsionar o empoderamento econômico das mulheres da região.
Solange Borges, Fundadora da Culinária de Terreiro. Foto: Cortesia da DIVER.SSA.
Tem sido uma longa jornada. Em 2017, Solange criou a Culinária de Terreiro com a proposta de apresentar a cultura do candomblé pela comida e, ao mesmo tempo, valorizar a história local e empoderar as mulheres em seus negócios. Ano passado, Solange conseguiu concretizar uma etapa importante do projeto: inaugurar a Casa de Farinha, um ambiente que conta com novos equipamentos para fabricação de alimentos para aumentar produção e vendas, e um espaço de convivência e aprendizagem, no qual são oferecidos cursos para estimular interações e trazer mais renda para as microempresárias que trabalham na terra. Essa conquista foi fruto da participação de Solange no programa de Aceleração Itaú Mulher Empreendedora + DIVER.SSA, em 2021.
De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), as empreendedoras negras brasileiras foram as mais afetadas pela pandemia da COVID-19, e por isso o Programa Itaú Mulher Empreendedora (IME) estruturou uma ação para apoiá-las. Com o suporte técnico e financeiro da IFC e a parceria com a DIVER.SSA – plataforma de aprendizagem, investimento e conexão focada no acolhimento, bem-estar mental e emocional para mulheres empreendedoras e intraempreendedoras com atuação no Norte e Nordeste do Brasil – o programa de aceleração teve como foco micronegócios liderados por mulheres do Norte e Nordeste do país, prioritariamente negras e indígenas. Na primeira fase, 30 entre 300 mulheres que se inscreveram foram selecionadas para aprender sobre autoconfiança, autogestão e autoconhecimento.
“Trazemos uma abordagem inovadora, do acolhimento psicológico e emocional, porque acreditamos que esse é o primeiro passo a ser priorizado na mulher para que ela tenha fôlego para a sustentabilidade do seu negócio”, explica Ítala Herta, fundadora e CEO da DIVER.SSA. Dos 30 negócios selecionados, dez passaram para a etapa seguinte de mentoria sobre comunicação, organização financeira, precificação, digitalização do negócio e vendas online, e seis receberam um investimento semente no valor de R$ 10 mil para cada uma.
“Foi um divisor de água participar do programa. As capacitações nos ajudaram a ampliar nosso horizonte de negócios e ter uma gestão mais profissional, principalmente em relação às finanças”, explica Solange. O investimento semente, além de ajudar na conclusão da Casa de Farinha, foi usado para a melhoria dos canais digitais e estruturação das lives e cursos online, diversificando o modelo de negócio de Solange.
No Estado do Amazonas, Ercília experimentou um aumento de 70% do faturamento depois de participar do programa de aceleração. Nas suas mãos, sementes de açaí e fibras de arumã, tucumã e patauá se transformam em pulseiras, colares, bolsas, roupas e objetos de decoração. Ela carrega a tradição do povo Desana no artesanato que produz em Novo Airão, cidade a 195km de Manaus. Inicialmente, Ercília vendia para os turistas que passavam de barco pelo Rio Negro, mas agora usa as redes sociais e a loja física, anexa à sua casa. Aproveitou o investimento semente para estruturar a loja virtual, criar a identidade visual da Ercília Arte Desana e ainda investir na construção da máquina para fazer o processamento de sementes. “Com o programa, consegui colocar meus produtos em todo o Brasil e também fora do país. E agora vamos inaugurar o galpão com a máquina de processamento de semente, que vai ajudar as mulheres da comunidade”, explica Ercília.
Geysa Lopes, do Ceará, é outra empresária beneficiada pelo programa. Fundadora do Furniture Pallet, Geysa fabrica móveis rústicos e sustentáveis de madeira pinus reflorestada. Abriu seu micronegócio há três anos, na garagem de casa, quando deixou um emprego de consultora de vendas em uma loja de roupas para seguir o sonho de ter o próprio negócio. Após participar do programa de aceleração, registrou um aumento do faturamento de 125%. “Eu não acreditava no potencial do negócio, que seria possível realmente ganhar dinheiro. Foi importante aprender sobre a autoconfiança e quebrar certos preconceitos sobre nossa forma de lidar com dinheiro”, explica Geysa. Os recursos foram usados para compra de matéria prima, manutenção de equipamentos e contratação de novas funcionárias. E ela já prepara a abertura da primeira loja física.
Geysa Lopes, Fundadora do Furniture Pallet (direita), dando um workshop sobre marcenaria para mulheres. Foto: Cortesia da Furniture Pallet.
Essa foi a terceira edição da parceria da IFC no programa de aceleração do Itaú Mulher Empreendedora e mais de 96 mulheres já foram beneficiadas.
“A mulher é uma força motriz da economia global, já que representa metade da população mundial. A igualdade de gênero não é apenas um imperativo social e moral, mas também uma necessidade econômica para despertar e libertar o poder que a mulher exerce na transformação socioeconômica. E a IFC exerce seu papel de produzir conhecimento e buscar soluções para reduzir a lacuna social e econômica nas economias emergentes”, afirma Helene Meurisse, Oficial de Operações da IFC e responsável por projetos de assessoria técnica para instituições financeiras.
O Itaú foi o primeiro banco privado brasileiro a lançar um programa de apoio ao empreendedorismo feminino, em 2013, com assessoria técnica da IFC. Ao longo desses nove anos, as duas instituições têm trabalhado em conjunto para investigar o ambiente de negócios liderados por mulheres e ampliar a inclusão de perfis diversos de empreendedoras, incluindo mulheres negras e indígenas, e seus contextos interculturais e vulnerabilidades sociais.
“O programa nos ajudou a entender que essas mulheres que já empreendem há tempos, precisam apenas aprimorar o conhecimento técnico para direcionar corretamente os recursos que já possuem. A jornada mostrou ainda o impacto do investimento financeiro na potencialização da renda, que em muitos casos beneficia outros negócios e toda a comunidade ao redor”, afirma Hebe Valle, responsável do Itaú pelo desenvolvimento dessa edição do programa de aceleração e analista de Negócios Inclusivos e Empreendedorismo.
Como Solange, Ercília e Geysa provaram, com um pouco de apoio, as mulheres empreendedoras estão prontas para sonhar cada vez mais alto.
Publicado em abril de 2022