Story

Pequenas empresas com grandes sonhos de capacitar comunidades no Brasil

abril 12, 2022

Shirley Emerick e Bruna Sandrini

Na Agrovila Pinhão Manso em Camaçari (Bahia), o primeiro domingo do mês é dedicado à Feira Agroecológica. Lá, as mulheres da comunidade expõem frutas, verduras e legumes produzidos em suas propriedades. Elas preparam também quitutes de farinha de aipim e exploram o sabor exótico do dendê em comidas típicas, enquanto rodas de conversa envolvem os visitantes. Esse é um dos muitos eventos que escoam a produção e movimentam a economia para esse grupo de baianas. Lá, você encontrará a chef e empresária Solange Borges, que busca impulsionar o empoderamento econômico das mulheres da região.

Solange Borges
Solange Borges, Fundadora da Culinária de Terreiro. Foto: Cortesia da DIVER.SSA.

Tem sido uma longa jornada. Em 2017, Solange criou a Culinária de Terreiro com a proposta de apresentar a cultura do candomblé pela comida e, ao mesmo tempo, valorizar a história local e empoderar as mulheres em seus negócios. Ano passado, Solange conseguiu concretizar uma etapa importante do projeto: inaugurar a Casa de Farinha, um ambiente que conta com novos equipamentos para fabricação de alimentos para aumentar produção e vendas, e um espaço de convivência e aprendizagem, no qual são oferecidos cursos para estimular interações e trazer mais renda para as microempresárias que trabalham na terra. Essa conquista foi fruto da participação de Solange no programa de Aceleração Itaú Mulher Empreendedora + DIVER.SSA, em 2021.

De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), as empreendedoras negras brasileiras foram as mais afetadas pela pandemia da COVID-19, e por isso o Programa Itaú Mulher Empreendedora (IME) estruturou uma ação para apoiá-las. Com o suporte técnico e financeiro da IFC e a parceria com a DIVER.SSA – plataforma de aprendizagem, investimento e conexão focada no acolhimento, bem-estar mental e emocional para mulheres empreendedoras e intraempreendedoras com atuação no Norte e Nordeste do Brasil – o programa de aceleração teve como foco micronegócios liderados por mulheres do Norte e Nordeste do país, prioritariamente negras e indígenas. Na primeira fase, 30 entre 300 mulheres que se inscreveram foram selecionadas para aprender sobre autoconfiança, autogestão e autoconhecimento.

“Trazemos uma abordagem inovadora, do acolhimento psicológico e emocional, porque acreditamos que esse é o primeiro passo a ser priorizado na mulher para que ela tenha fôlego para a sustentabilidade do seu negócio”, explica Ítala Herta, fundadora e CEO da DIVER.SSA. Dos 30 negócios selecionados, dez passaram para a etapa seguinte de mentoria sobre comunicação, organização financeira, precificação, digitalização do negócio e vendas online, e seis receberam um investimento semente no valor de R$ 10 mil para cada uma.

“Foi um divisor de água participar do programa. As capacitações nos ajudaram a ampliar nosso horizonte de negócios e ter uma gestão mais profissional, principalmente em relação às finanças”, explica Solange. O investimento semente, além de ajudar na conclusão da Casa de Farinha, foi usado para a melhoria dos canais digitais e estruturação das lives e cursos online, diversificando o modelo de negócio de Solange.

Abrindo asas

No Estado do Amazonas, Ercília experimentou um aumento de 70% do faturamento depois de participar do programa de aceleração. Nas suas mãos, sementes de açaí e fibras de arumã, tucumã e patauá se transformam em pulseiras, colares, bolsas, roupas e objetos de decoração. Ela carrega a tradição do povo Desana no artesanato que produz em Novo Airão, cidade a 195km de Manaus. Inicialmente, Ercília vendia para os turistas que passavam de barco pelo Rio Negro, mas agora usa as redes sociais e a loja física, anexa à sua casa. Aproveitou o investimento semente para estruturar a loja virtual, criar a identidade visual da Ercília Arte Desana e ainda investir na construção da máquina para fazer o processamento de sementes. “Com o programa, consegui colocar meus produtos em todo o Brasil e também fora do país. E agora vamos inaugurar o galpão com a máquina de processamento de semente, que vai ajudar as mulheres da comunidade”, explica Ercília.

Geysa Lopes, do Ceará, é outra empresária beneficiada pelo programa. Fundadora do Furniture Pallet, Geysa fabrica móveis rústicos e sustentáveis de madeira pinus reflorestada. Abriu seu micronegócio há três anos, na garagem de casa, quando deixou um emprego de consultora de vendas em uma loja de roupas para seguir o sonho de ter o próprio negócio. Após participar do programa de aceleração, registrou um aumento do faturamento de 125%. “Eu não acreditava no potencial do negócio, que seria possível realmente ganhar dinheiro. Foi importante aprender sobre a autoconfiança e quebrar certos preconceitos sobre nossa forma de lidar com dinheiro”, explica Geysa. Os recursos foram usados para compra de matéria prima, manutenção de equipamentos e contratação de novas funcionárias. E ela já prepara a abertura da primeira loja física.

Geysa Lopes, Fundadora do Furniture Pallet (direita), dando um workshop sobre marcenaria para mulheres.
Geysa Lopes, Fundadora do Furniture Pallet (direita), dando um workshop sobre marcenaria para mulheres. Foto: Cortesia da Furniture Pallet.

Essa foi a terceira edição da parceria da IFC no programa de aceleração do Itaú Mulher Empreendedora e mais de 96 mulheres já foram beneficiadas.

“A mulher é uma força motriz da economia global, já que representa metade da população mundial. A igualdade de gênero não é apenas um imperativo social e moral, mas também uma necessidade econômica para despertar e libertar o poder que a mulher exerce na transformação socioeconômica. E a IFC exerce seu papel de produzir conhecimento e buscar soluções para reduzir a lacuna social e econômica nas economias emergentes”, afirma Helene Meurisse, Oficial de Operações da IFC e responsável por projetos de assessoria técnica para instituições financeiras.

O Itaú foi o primeiro banco privado brasileiro a lançar um programa de apoio ao empreendedorismo feminino, em 2013, com assessoria técnica da IFC. Ao longo desses nove anos, as duas instituições têm trabalhado em conjunto para investigar o ambiente de negócios liderados por mulheres e ampliar a inclusão de perfis diversos de empreendedoras, incluindo mulheres negras e indígenas, e seus contextos interculturais e vulnerabilidades sociais.

“O programa nos ajudou a entender que essas mulheres que já empreendem há tempos, precisam apenas aprimorar o conhecimento técnico para direcionar corretamente os recursos que já possuem. A jornada mostrou ainda o impacto do investimento financeiro na potencialização da renda, que em muitos casos beneficia outros negócios e toda a comunidade ao redor”, afirma Hebe Valle, responsável do Itaú pelo desenvolvimento dessa edição do programa de aceleração e analista de Negócios Inclusivos e Empreendedorismo.

Como Solange, Ercília e Geysa provaram, com um pouco de apoio, as mulheres empreendedoras estão prontas para sonhar cada vez mais alto.

Publicado em abril de 2022