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Financiamento privado faz sistemas de água e saneamento mais resilientes

agosto 16, 2021

O Brasil tem 12% da água disponível globalmente e é um dos mais ricos em recursos hídricos. No entanto, devido a décadas de poucos investimentos e da gestão inadequada de água e esgoto em diversas regiões, o acesso aos serviços é limitado: 84% da população tem acesso a água potável e apenas metade dela tem acesso a esgoto.

As mudanças climáticas estão aumentando esse desafio e intensificando os riscos para o abastecimento contínuo de água, enquanto mais de um terço da água tratada para distribuição é perdida em vazamentos.

A principal prestadora de serviços de água e saneamento no Estado do Rio Grande do Sul, Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), planeja investir pelo menos R$ 10 bilhões (cerca de US$ 1,8 bilhão) até 2033 para melhorar os serviços de água e esgoto na região, após a recente aprovação do novo marco legal de saneamento no Brasil. As prioridades incluem ampliar a cobertura de esgoto e aumentar a eficiência energética e a resiliência do abastecimento de água.

A Corsan pretende reduzir as perdas de água na distribuição e melhorar a eficiência energética em suas operações.
A Corsan pretende reduzir as perdas de água na distribuição e melhorar a eficiência energética em suas operações.

Lidar com as perdas nos sistemas de distribuição de água - que excedem 35% em todo o país e 44% na área de cobertura da Corsan - será essencial. Essas perdas, chamadas em inglês de non-revenue water (NRW) – águas não faturada, em português -, são decorrentes de vazamentos em qualquer parte do sistema de distribuição, registro de hidrômetros incorretos, erros de manuseio de dados, furto de água e consumo autorizado não faturado. O NRW dificulta a viabilidade financeira das concessionárias de água porque resulta em menor rendimento, perda de recursos hídricos e aumento dos custos operacionais.

“A Corsan está se unindo à IFC para ajudar a reduzir as perdas de água na distribuição e melhorar a eficiência energética em suas operações. A IFC apoiará a Corsan na redução do non-revenue water para melhorar a eficiência energética da rede e reforçar a segurança da água," afirma Roberto Barbuti, CEO da Corsan. “Esta parceria é fundamental e se estende para ajudar a Corsan a aumentar sua resiliência contra condições climáticas severas, como secas ou inundações.”

A Corsan juntou-se à iniciativa Utilities for Climate (U4C) da IFCcomo um dos parceiros fundadores e representa a primeira empresa subnacional de serviços de água da América Latina a aderir à iniciativa. A U4C desenvolve soluções para ajudar concessionárias de serviços públicos a lidar com os desafios mais urgentes e aumentar as oportunidades de investimento em infraestrutura de água comercial em mercados emergentes.

A iniciativa U4C combina IFC Upstream, serviços de consultoria financiada por doadores e investimentos para aumentar o impacto de cada dólar investido e estabelecer relacionamentos de longo prazo. Também ajuda a identificar e estruturar oportunidades financiáveis para facilitar os investimentos comerciais, ao mesmo tempo que fornece suporte técnico para melhorar a eficiência e introduzir práticas de gestão sustentáveis.

A IFC está fornecendo à Corsan serviços de consultoria e a primeira tranche de R$ 300 milhões (US$ 56 milhões) de um financiamento verde denominado sustainability-linked loan (SLL), em um projeto de até R$ 450 milhões (US$ 83 milhões). A consultoria, que está sendo realizada com o apoio do Governo do Japão, visa ajudar a Corsan a diagnosticar e planejar locais e intervenções prioritárias para reduzir as perdas de água. O investimento da IFC apoiará o programa de redução de perda de água da empresa e os esforços de melhoria da eficiência energética por meio da substituição da rede, bombas elétricas e hidrômetros. O financiamento da IFC também pretende alavancar os serviços de consultoria para ajudar a Corsan a reduzir o NRW de 44% atualmente para menos de 35% até 2024.

O projeto da Corsan poderá servir como modelo para futuros projetos de infraestrutura no Brasil.
O projeto da Corsan poderá servir como modelo para futuros projetos de infraestrutura no Brasil.

"Água e saneamento são a prioridade número um da IFC no país. Os investimentos em infraestrutura crítica são fundamentais para garantir que o Brasil tenha abastecimento estável de água e um desenvolvimento sustentável contínuo, e esperamos que este projeto forneça a estrutura necessária para iniciativas futuras de infraestrutura hídrica," afirma Carlos Leiria Pinto, Gerente Geral da IFC no Brasil.

O investimento na Corsan está alinhado com a estratégia da IFC para o setor de serviços de água e saneamento, que busca tornar uma prioridade o envolvimento com empresas de utilidade pública com capacidade de crédito, incluindo empresas privadas e subnacionais, para alcançar escala e impacto.

Notavelmente, o empréstimo verde é um dos primeiros investimentos de SLL da IFC em infraestrutura globalmente. Os SLLs oferecem aos mutuários um incentivo financeiro para atingir as metas vinculadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). No caso da Corsan, a meta está vinculada ao ODS6, que visa “garantir a disponibilidade e a gestão sustentável da água e do saneamento para todos”. Se a Corsan for capaz de cumprir a meta de reduzir as perdas de água em 35% até 2024, conforme relatado oficialmente ao Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), então se beneficiará de uma redução na taxa de juros do empréstimo.

Na última década, investimentos restritos do setor público e a utilização limitada de capital privado impediram o progresso do Brasil na melhoria dos serviços de água e esgoto. Isso mudou, no entanto, com a publicação do novo marco legal em julho de 2020 para modificar a estrutura regulatória do setor. A lei determina que a cobertura de água deve chegar a 99% da população brasileira e 90% para coleta e tratamento de esgoto até 2033.

Para atingir essas metas de cobertura, a nova lei prioriza a prestação de serviços e incentiva a utilização de capital privado para atender às necessidades de investimento, estimadas em R$ 750 bilhões (US$ 140 bilhões). As empresas de serviços públicos podem atrair esse capital por meio de financiamentos, parcerias público-privadas (PPPs), ofertas públicas iniciais (IPO) e outros instrumentos. O setor de água e saneamento no Brasil é predominantemente liderado por empresas estatais de água que atendem três quartos da população, enquanto as empresas privadas cobrem menos de 10% e os municípios atendem o restante.

Água e saneamento são essenciais para a saúde humana e são pré-requisitos para o crescimento econômico. Ao recorrer ao financiamento do setor privado, o Rio Grande do Sul está abrindo novos caminhos de impacto no desenvolvimento que farão uma diferença mensurável para sua população e diferentes comunidades, especialmente perante as mudanças climáticas em curso.

Published in August 2021